O vento e o Tempo III- Uma Linda Viagem pela Estrada do Inferno.
Os seis jesuítas partiram em direção ao sul com destino a Rio Grande. Verão do janeiro de 1744. Sabiam que o naufrágio do navio Duc De Chartres havia acontecido a 4 léguas da guarda do rio Tramandaí. Obviamente, deveriam seguir costeando o mar, mas próximos de águas doces, abundantes na costa litorânea e, em algum ponto, pegar o caminho conhecido por soldados e tropeiros, a Estrada da Laguna.
Para este próximo parágrafo reafirmamos que é uma hipótese a questão da tentativa de buscar um ponto de acesso a esta estrada e, pelas circunstâncias nada favoráveis a eles, se obrigam abandonar a imagem da santa. Podem ter vindo mais para o norte da costa e assim deparando-se com a travessia do arroio , na Fazenda do Arroio, onde teriam deixado a imagem de Nossa senhora da Conceição, e ainda naquele ano, encontrada pelos escravos da fazenda.
No 11º dia de viagem a pé, avistam Bojuru onde havia uma choupana de palha, da guarda portuguesa; “precisamente no dia em que eles haviam colocado sob a proteção de São Luis”. É por isto que o padroeiro de Mostardas é São Luiz.
No inverno, do junho de 2011, fizemos esta trajetória, porém de automóvel e claro, no maior conforto. Eles, ansiosos por chegar à civilização e nós, por alcançar a balsa São José do Norte / Rio Grande que parte às 14 horas. Nossos destinos, Rio Grande,Cassino,Pelotas,Praia do laranjal,Fena Doce,Jaguarão e Rio Branco,Uruguai.
A BR 101 totalmente asfaltada, nem de perto lembra a famosa Estrada do Inferno que em períodos chuvosos, atolava os caminhões daqueles heróis que ainda conduzem por este caminho, a economia do litoral sul, principalmente cebola e arroz. E muito menos lembra a Estrada da Laguna, que certamente compreende trechos daquela antiga estrada do período colonial brasileiro.
Os jesuítas percorreram o trecho de Tramandaí a Mostardas em10 dias; e nós, com paradas para apreciar a natureza que é só de campos, mata nativa e de gados, pro preparo do chimarrão e também quase parando algumas vezes para desviar de alguma panela no asfalto, demoramos em torno de 2 horas.
Em vários momentos no silencio do lugar, apenas ouvindo o chiar dos pneus no asfalto, me via tentando sentir o clima de uma viagem no século XVIII, em um lugar do planeta ainda desconhecido e pouco habitado. Ao longe se vê casas de fazenda. De vez em quando um automóvel ou caminhão, e em raras paradas de ônibus adultos e crianças esperando o transporte. Aí nos acenavam: desconhecidos para desconhecidos, antigo costume de tempos idos...
Para São José do Norte ainda foi um bom trecho, em torno também de duas horas.Preferimos deixar para almoçar em Rio Grande porque a disputa na fila da balsa, entre automóveis e caminhões, era imensa......
Pensamos em lá retornar. A viagem não tem estress, é só ir reto que ao destino se chega e melhor, ainda não há pedágios....
A seguir,algumas fotos que acredito serem interessantes para quem deseja conhecer este lado do “planeta gaúcho”, acompanhadas de breve descrição:esta primeira foto é a ponte ao lado da atual no município de Palmares do Sul, pela Estrada da Laguna a Rio grande.Foi construída por escravos no ano de 1852 e destruída durante temporal , por um raio,por volta de 1985.Foto do ano de 1984, tirada por mim e inserida na obra Navegação Lacustre Osório Torres em 2ª ed.esgotada.
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