(Texto publicado na página de Cultura do Jornal Revisão em 19.08.10)
Como é tempo de Moenda da Canção em Santo Antônio da Patrulha, cidade que respeita e preserva com ênfase e obstinação a cultura açoriana, e do XIII Festival Internacional de Folclore de GravataÃ, nós, daqui de Osório, temos os mesmos traços culturais, mas nem todos sabemos muito a respeito desse importante legado cultural que deve ser motivo de orgulho de nosso povo e de nossas comunidades.
Baseado em um trabalho escolar elaborado há alguns anos por alunas da Rima e da Escola Rural, conto um pouquinho sobre as influências culturais açorianas aqui no litoral e em todo o Rio Grande do Sul. (Paulo de Campos)
AÇORES
Região autônoma de Portugal, é um arquipélago do Oceano Atlântico, a meio caminho entre Portugal e Estados Unidos da América. É formado por nove ilhas: Santa Maria (ilha vermelha), São Miguel (ilha verde), Terceira (ilha lilás), São Jorge (ilha Castanha), Graciosa (ilha branca), Pico (ilha cinzenta), Faial (ilha azul), Flores (ilha cor-de-rosa) e Corvo (ilha preta).
Logo após seu descobrimento pelos navegadores portugueses, o arquipélago começou a ser povoado e a ser aproveitado como ponto de parada para as caravelas que navegavam pelo Atlântico. Devido ao seu desenvolvimento comercial, o arquipélago dos Açores atraÃa muitos portugueses que lá iam morar. Contudo, pouco a pouco, o arquipélago começou a ficar superpovoado. Assim, muitos açorianos foram-se obrigados a imigrar, procurando novas terras onde pudessem se estabelecer e trabalhar, vindo principalmente para o Brasil.
AÇORIANOS NO BRASIL
A imigração de casais açorianos para o Brasil começou no séc. XVII. Em 1747 Portugal sentindo a necessidade de povoar as terras meridionais, lançou um edital convidando casais açorianos para virem para o sul do Brasil (Santa Catarina e Rio Grande do Sul), pois enquanto no sul o império português se defrontava com o problema de possuir muita terra para pouca gente, nas Ilhas dos Açores a situação era inversa: havia muita gente para pouca terra.
Entraram no Rio Grande do Sul aproximadamente dois mil e trezentos açorianos (o que representava dois terços da população gaúcha). Localizaram-se ao longo do litoral e da depressão central. Veio com eles um enorme legado cultural.
Os açorianos e seus descendentes sempre foram muito criativos no seu saber popular, eram hábeis na improvisação de versos, de onde surgiam verdadeiros poemas e mensagens de amor ou crÃtica. O pão-por-Deus, as quadras populares as trovas, os causos e os ditados populares são algumas das formas de se expressão da literatura açoriana escrita e falada.
A gastronomia envolve produtos de origem agropecuária, frutos do mar e pescados, bem como bebidas. A maior parte das receitas agrÃcolas está relacionada à farinha de mandioca, milho e feijão, produtos básicos de sua alimentação: cuscuz, rosca de polvilho, beiju, pamonha e roupa-velha de carne no feijão são alguns exemplos.
Pode-se afirmar, com muita segurança, que uma das marcas mais expressivas que a cultura portuguesa levou ao Brasil é a religiosidade. O culto ao Divino EspÃrito Santo é a expressão religiosa desta cultura que está praticamente em todos os recantos do nosso paÃs. Esta festa vem de épocas remotas instituÃda em Portugal, pela Rainha Isabel, no século XVI, para cá imigrou com os colonos portugueses, e também pelos jesuÃtas, que por meio dela conseguiram atrair negros e Ãndios para o seu credo. A Festa do Divino é a festa da fartura e da prodigalidade, e o seu maior motivo é que o EspÃrito Santo abençoe com seus dons e dádivas, e que proteja as terras com boa colheita, mas para isso é preciso que haja muito pão, carne e vinho. Outras manifestações de fé são os pagamentos de promessas e a Mesa dos inocentes.
São inúmeras e variadas as danças de base cultural açoriana que refletem influências culturais diversas luso-açoriana, africana, italiana, cigana, etc: O Fandango - dança de salão associada ao bailado de tamancos. Dança de São Gonçalo - conhecida por fandango de São Gonçalo, é uma dança religiosa que teve origem em Portugal e foi trazida pelos imigrantes. Chamarrita ou Chimarrita - é uma moda muito alegre e rapidinha, tipo um valsado na ponta dos pés.
Quadrilha - é uma dança com movimentos coreográficos que lembram diversas danças açorianas. Ratoeira - dança tÃpica de roda que embalava as comunidades, Pau-de-fita - é uma dança em homenagem á fertilidade da natureza, formada por dançarinos, tendo ao centro um pau-de-fita colorida que representava a árvore e seus frutos. O Pezinho: existem inúmeros tipos de danças do pezinho cultuadas nos Açores.
Os folguedos são manifestações folclóricas marcadas por coreografias livres, em que os movimentos dos praticantes, a musicalidade e as cantorias, quando existem, refletem a criatividade e a improvisação. Quase todos os folguedos, de fundo profano ou religioso, são de origem açoriana ou resultaram de práticas dos descendentes açorianos: Terno de Reis - é uma manifestação folclórica e cultural, através da qual um grupo de pessoas, sai à s vésperas do Natal, Ano-Novo e no Dia de Reis, nas portas das casas, cantando e anunciando o nascimento do Menino Jesus, exaltando sua Divindade. Cantorias do Divino - são cantorias que homenageiam o EspÃrito Santo, saúdam e agradecem as ofertas à bandeira, quando se visitam as famÃlias de casa em casa. Um grupo de terno costume cantar nestas casas. Dança da Quadrilha - é uma dança alegre que apresenta várias evoluções comandadas por um marcador, ela aparece em várias regiões brasileiras. Casamento na Roça - é uma inicialização de um casamento do interior como todos os seus componentes, só que tem um tom brincalhão, onde geralmente os noivos são trazidos pela quadrilha.
Como já foi dito, a cultura açoriana está presente e manifesta-se permanentemente em nossas ações cotidianas. Por isso devemos cada vez mais tentar conhecê-la melhor preservá-la e perpetuá-la.
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