A arte de Julio Ramos Collares ganha exposição na Nieto Atelier

02/04/2025
O Elogio da Sombra: a arte de Julio Ramos Collares ganha exposição na Nieto Atelier e Galeria, a partir desta quarta (09)
O artista exibe 20 obras inéditas que exploram a relação entre luz, sombra e materiais reciclados, promovendo reflexões sobre nuances e contrastes
A Nieto Atelier e Galeria, em Porto Alegre, recebe a partir desta quarta-feira, 09 de abril, às 19h, a exposição "O Elogio da Sombra" do artista plástico Julio Ramos Collares. A mostra, que integra o Projeto Portas Para a Arte - Fundação Bienal Mercosul, reúne 20 obras inéditas, compostas por óleo sobre papel e colagens realizadas com materiais reciclados, como papelão, lixa e outros elementos de sucata. A exposição, que será inaugurada às 19h, ficará aberta até o próximo dia 30 de abril, propõe uma reflexão sobre a luz, a sombra e a busca por profundidade e introspecção, elementos que permeiam o trabalho de Collares (confira detahes no "Serviço").
O título da exposição faz referência ao livro "O Elogio da Sombra", de Junichiro Tanizaki, que explora a estética oriental, valorizando as sutilezas da sombra e da escuridão em oposição à exuberância e ao brilho típicos da arte ocidental. O artista explica: "O conceito me veio à mente após uma exposição anterior, onde apresentei uma tela muito escura, carregada, quase tensa, inspirada na enchente de maio. Gostei do resultado e comecei a explorar essa densidade na minha paleta cromática." Em "O Elogio da Sombra", Collares busca aprofundar essa exploração das nuances sutis, criando um espaço visual que convida à reflexão silenciosa e ao contemplativo.
A fusão entre técnicas clássicas e materiais reciclados marca uma nova fase em sua produção artística. Collares, que sempre trabalhou com óleo sobre tela, passou a experimentar o óleo sobre papel, um novo suporte para ele. "O óleo sobre papel apresenta dificuldades técnicas, como a absorção da umidade, mas também abre novas possibilidades", conta. A opção pelas colagens com sucata, que surgem de uma pesquisa de longa data, traz uma certa casualidade ao processo criativo. "Trabalhar com sucata traz um aspecto de interatividade e incerteza, algo prazeroso para quem passou a vida planejando na arquitetura," reflete o artista.
A exposição também dialoga com sua formação em Arquitetura, que, segundo Collares, influenciou sua maneira de compor e organizar as obras. "A arquitetura me deu um olhar estruturado sobre o espaço e a composição. Mesmo quando busco espontaneidade na arte, há um senso de ordem e proporção que vem dessa formação," explica. Esse olhar para a organização do espaço se reflete na escolha dos suportes e na interação das obras com o ambiente.
Processo criativo
Ao refletir sobre o processo criativo que resultou em “O Elogio da Sombra”, Julio Ramos Collares compartilha um trecho de sua trajetória artística que antecede esta nova exposição. Em outubro passado, o artista apresentou sua série, “Maio”, no foyer do Multipalco – Theatro São Pedro, composta por doze telas que formavam uma sequência abstrata sobre a devastadora enchente que atingiu Porto Alegre e o Estado.
Segundo o próprio Collares, "a sequência sugeria um gradual agravamento da situação dramática de enfrentamento das cheias." Entre as últimas telas da exposição, ele experimentou tons muito escuros, com uma paleta de cores que quase se dissolviam em um fundo totalmente negro, um trabalho que foi enriquecido por um texto da crítica Rochele Zandavalli, que observou a constante presença da linha do horizonte em suas obras, algo que se repetia ao longo de vários anos.
Ao buscar nas sombras e na sutileza da iluminação, ele também manteve a presença dos horizontes, como observado por Zandavalli. Para o artista, "os horizontes são alentos, coisas por vir, quase esperanças", funcionando como um elemento estabilizador e de unidade em suas novas colagens e pinturas. Esses elementos compõem a base do trabalho apresentado na Nieto Atelier e Galeria, unindo a reflexão sobre a luz e a sombra com o simbolismo dos horizontes, gerando uma nova fase na arte de Julio Ramos Collares.
Trajetória
Em relação à sua trajetória, o artista destaca uma evolução contínua. Sua primeira exposição individual ocorreu em 2022, aos 70 anos, e desde então seu trabalho se refinou, especialmente no que diz respeito ao uso da paleta cromática e à técnica das colagens. "Em O Elogio da Sombra, vejo um refinamento nas colagens e uma afirmação da paleta cromática, agora mais escura," observa Collares. A colagem, que se destaca na mostra, oferece ao artista uma possibilidade de imprevisibilidade. "A colagem traz um elemento de experimentação e surpresa. O processo de montagem permite combinações inesperadas, algo diferente da pintura, que tende a ser mais planejada", revela.
Ao convidar o público para a exposição, Collares deseja que cada visitante tenha uma experiência única, baseada na observação atenta. "Espero que as pessoas encontrem na exposição um espaço para refletir sobre luz, sombra e as nuances que existem entre elas," conclui. "O Elogio da Sombra" é, assim, uma oportunidade de mergulhar em um universo de contemplação, onde as sombras revelam, ao invés de esconder, a beleza das formas e dos detalhes.